sábado, 2 de maio de 2009

Tour sem nome dia 10 Praia da Galé

Fazer tantos Km para encontrar a paz que procurava no sitio que melhor conheço em Portugal. Quer linda está a Galé só para mim...

Bom... cada vez escrevo menos. Está frio. Mas é um frio bom.

A solidão é estranha.Fujo dela e procuro-a. Ainda não percebi como é que estou melhor. Sozinho penso em amores impossíveis. Acompanhado penso em estar sozinho. Faz parte da natureza humana aquela frase da música do Paião que toda a gente conhece e que a mim me continua a dizer muito "estou bem aonde não estou, porque eu só quero ir aonde não vou..." e por aí fora...

Todas as pessoas com quem falei ao longo desta viagem me tratavam por senhor. Já estarei assim tão velho e respeitável? Acho que gerir um negócio me deu uma ar mais respeitável. Porque estou queimado que nem um cigano e vestido com uns trapos sujos e rasgados do pior... portanto só pode ser do ar.

Por vezes sinto-me incrivelmente desajustado. Viajas sozinho, e sublinho o sozinho, por Portugal? Sendo Português? Sinto-me um bocado maluquinho: "olha lá este, veio sozinho..." hipóteses a considerar:
1) é um tipo muito estranho
2) é meio doido
3) é qualquer coisa que não sabemos o que é mas que pelo sim pelo não vamos evitar sorrir muito não vá ele morder!

Escrevo isto enquanto Bebo uma garrafa de Monsaraz tinto (que é uma bela cagada) e oiço Rabi Abu Kahlil bastante alto na esperança de que alguma fêmea interessada (em Rabi Abu Khalil, ou em gajos que o ouvem, sozinhos, sentados ao frio, numa noite de Setembro, com uma luz de mineiro na cabeça, enquanto escrevem qualquer coisa num caderno) e descomplexada se aproxime e me interpele com qualquer coisa do género: "olá, não pude deixar de ouvir esse som maravilho, posso sentar-me um pouco contigo?"
Isto claro enquanto sorri, e com esse sorriso me transforma num caramelo deixado a derreter em cima do tablier de um renault 5 de 1985.
Ai o vinho o que faz às pessoas..

Já no café. Passa Jack Jonhson na aparelhagem... que alivio... que atmosfera agradável pode proporcionar um bom som.... já para não falar de um mau vinho...
Falei ainda agora com o Sérgio, fanático do BTT e do esforço. Do estender mais e mais os nossos limites. Gosto disso, gosto de me superar. Talvez por pensar sempre pouco de mim, não sei.

E neste espaço, ao som de Jack transcrevo uns parágrafos que descrevem na precisão aquilo que sinto ou já senti e quero voltar a sentir, são de uma eloquência e simplicidade brutais. Por isso me sinto impelido a passa-los para este caderno, para me relembrar mais vezes deste sentimento talvez.
"Domingo foi um dia simultaneamente significativo e vulgar. Toda a gente se habilita a um dia destes - talvez dois - na vida. Um dia passado não a meio de uma relação, mas no principio, um dia passado numa manhã depois de uma tempestade de neve ou num intervalo de febre, quando tudo parece demasiado intenso para se conseguir suportar. As nossas actividades nesse dia foram prosaicas: levantámo-nos tarde; fiz torradas e ovos mexidos; voltamos para a cama; ... e demos um grande passeio pelo rio; paramos numa tasca à beira da estrada que estava vazia (...) Hannah movia deliciosamente o ombro para baixo antes de atirar o dardo, como se estivesse a libertar-se de uma alça do vestido,. deixou de por a mão à frente da boca quando se ria; eu deixei de olhar para baixo quando dizia uma piada..."
in "Biblioteca do Geografo" - Jon Fasman

4 comentários:

Anthology disse...

Conheço bem a Galé.
Trabalhei em Tróia alguns anos...
Toda essa zona é um pedaço do céu cá na terra.

que inveja desta tua Tour..

boas pedaladas

ruiruim disse...

Obrigado pelo comentário :)

joana roldana disse...

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Espero que a empatia criada ao longo destes anos te permita ler o silêncio do meu comentário. Um abraço infinito....

nuno disse...

nao quererias dizer Variações em vez de Paião?